terça-feira, outubro 03, 2006

Uma banda estranha...


Sinceramente, nem sei porque estou fazendo essa introdução. A entrevista está ótima. Conheça Hiro, baterista da Canções para um Mundo sem Humanos, grupo de São Carlos, interior paulista.

Como o próprio Hiro definiu, segue o “freak show”:

Como surgiu a banda "Canções..."? Quais são suas referências (musicais, estéticas, pessoais...) na hora de criar as músicas?
Nós sempre trabalhamos juntos na faculdade (nós três fazemos Imagem e Som na UFScar), curtíamos os mesmos sons, as mesmas imagens, combinávamos de fazer uma banda mas nunca acontecia nada de concreto. O apoio do professor/amigo Alessandro Sales em produzir e um show marcado sem nem mesmo um ensaio (nosso show na festa LadoB em Limeira) foram determinantes para que o Canções surgisse. Temos como referencial estético fazer músicas que façam as pessoas optarem por viverem coisas que valham a pena e as façam dançar bizarramente quando escutam nossa sonoridade.

É impressionante o timbre de "rap" que a música "Canções..." possui. O mais chocante foi saber por meio do guitarrista Ciro que você fez aquela bateria por meio de um programa de computador. Como foi isso? É a primeira vez que você experimenta dessa maneira? Ou já fez isso em outros projetos?
Como trabalhei no estúdio Gaiola Zen (ex-estúdio de som de membros da banda The Dead Rocks), aprendi a mexer em alguns softwares de som. Além disso, fiz algumas trilhas sonoras para obras audiovisuais. Como sou baterista e disponho de pouco recurso financeiro, comecei a fazer músicas utilizando softwares para torná-las materiais. Num primeiro momento, eram rascunhos de músicas e percebendo que estavam ficando interessantes, estas músicas foram elevadas ao título de músicas prontas.
Esta música, que foi a primeira que fizemos e que se tornou parâmetro para as outras, tinha sido composta de maneira convencional, porém queríamos gravá-la. Levando em consideração nosso pouco recurso financeiro, decidimos seqüenciar a bateria, que é um instrumento difícil de gravar, e sintetizadores; e gravar "de verdade" vocais e instrumentos de corda. Gostamos da idéia de a música gravada ser de um jeito e ao vivo ser de outro e expandimos para as outras.

Eu assisti apenas alguns trechos da primeira apresentação de vocês em Limeira-SP, durante a Festa LadoB, e pude notar que, além de tocar bateria, você usou teclado em algumas músicas. Você é humano mesmo? Ou um stalker (aliás, que raios é isso?)?
Não é tão difícil assim... É só fazer acordes ao invés de dar baquetadas... Stalkers são seres que podem e sabem como viver na ZONA (região da Rússia misteriosa em que caiu um meteoro). Melhor do que ler esta definição simplória é assistir ao filme Stalker de Andrei Tarkovski.

Você ainda cursa Imagem e Som. Pretende trabalhar futuramente em algo ligado à Música (videoclips)? Cinema? Ou mercado publicitário (deve ser o que rende mais dinheiro...)?
A pergunta mais difícil... risos. Pretendo trabalhar com imagens e sons; e dormir e comer bem para não gastar tempo pensando em coisas que não sejam interessantes. Além disso, pretendo viajar e viver em lugares legais. Sei que não respondi a pergunta diretamente, mas é a resposta mais sincera que consigo dar.

Falando de Cinema, qual a sua opinião sobre o cinema brasileiro? Eu sei que é uma pergunta bem aberta e idiota, por isso, pode responder de uma maneira bem aberta e idiota... Bem, então vamos "tentar" melhorar: o cinema brasileiro produzido hoje em dia tem alguma qualidade artística? É instigante? Que trabalhos você destacaria?
O cinema brasileiro tem produzido muita porcaria, mas isto é bom. Só com uma grande quantidade é possível sair algo de qualidade. Hoje em dia quem tem produzido algo de interessante são os cineastas da antiga como Júlio Bressane e Eduardo Coutinho. De diretores novos, recomendo Lucrecia Martel e Pablo Trapero, que são nossos vizinhos argentinos e vivem numa situação parecida com a nossa.

Quais são os seus filmes e diretores preferidos?
Pergunta bem Nick Hornby mas tudo bem, apesar de eu não gostar de listas. Gosto de diretores que conseguem pensar por meios de imagens e sons. Bons exemplos são Andrei Tarkovski e Stanley Kubric. Filmes que merecem ser assistidos são “Bom Dia”, de Yasugiro Ozu, e “Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla.

E aquele curta-metragem sobre o menino que ensina um pássaro a cantar? Em que pé está? Será que algum dia eu (e quem mais estiver lendo isso aqui) poderá assistí-lo? Aliás, existe algum "cenário independente de filmes" no interior?
O curta-metragem está em fase de finalização do som. Até o final do ano, esperamos que esteja pronto. O endereço do site é http://www.ies.ufscar.br/emflor/. Em São Carlos, há um grande número de produções devido ao curso de Imagem e Som. Há também tentativas de aumentar essa produção fora da UFSCar por meio de projetos da prefeitura. Mas não há uma cena no sentido mais interessante do termo: produção estética interessante. Porém, se é pra ajudar a melhorar a situação, visto a camisa de que há sim um "cenário independente de filmes" no interior.

O Cinema influencia na música do "Canções..."? De que maneira?
Para a entrevista ficar menos entediante, responderei, a partir de agora de modo bizarro. No fundo, antes da matéria, o mundo é feito de imagens. Tudo é imagem. Deste modo, a música é a tradução sonora desta imagem, imagens sonoras; e o cinema são imagens sonoras e audiovisuais. Os motivos para se fazer são os mesmos, a grande diferença é que se gasta bem mais fazendo filmes. Bem mais. Muito mais. Assustadoramente mais. E a "banda" é formada por bem mais pessoas.

Antes de você ter o "Canções...", me lembro de uma conversa tua com o Marcos Piovesan sobre um projeto beeeemm estranho de usar samplers de música sertaneja podre em bases eletrônicas. Esse projeto bizarro virou realidade?
Na verdade, estávamos apenas divulgando o trabalho da dupla sertaneja Leninval Foice e Guevaro Martelo, que dizem fazer o "Sertan-rave-o´lution". Revolução para todas as classes sociais brasileiras!!! Perdemos um pouco de contato com eles, mas eles estão no orkut catequizando os indies.

Falando sobre o Pio e o Ciro, como é fazer música com os caras? Acredito que, para estar em um grupo como o "Canções...", o integrante não deve ser muito "normal"... (não leve a mal, é brincadeira, hahahahaha)
Para sair do senso comum, dos ideais medíocres da gigante classe média brasileira, é necessário ser louco. Há três tipos de louco: o realmente louco, que desencanou da consciência; o louco viável artisticamente, que vive no limite entre a loucura e a sanidade; e os piores: os que se auto-proclamam loucos, que nada mais são que propagadores de paranóias inúteis, e causam esta grande onda de niilismo que infesta a vida e a mídia. Estes últimos podem ter banda de rock, vestir roupas descoladas e usar as premissas punks como muleta para fazer péssimas músicas vazias e perpetuar a vontade da sociedade ocidental de dominar o mundo.

Quais são os próximos passos do "Canções..."? Gravar músicas? Shows?
Pretendemos produzir e fazer shows até a banda acabar. Talvez os membros se espalhem pelo mundo e novas Canções para um mundo sem Humanos surjam. De mais concreto, gravaremos novas músicas e faremos uma turnê por São Carlos. O primeiro show será em nossa república. Se você é de São Carlos, é só entrar em contato que tocaremos em sua casa com o maior prazer. Caso o leitor seja de outra cidade, aguarde. O mundo sem Humanos tem várias cidades e muitas canções.

9 Comments:

Blogger Fábio Shiraga said...

Bacana a entrevista, Fábio!
O Hiro é um dos grandes figuras que conheci nos últimos tempos.
Vida longa ao "Canções...", mesmo porque ainda quero vê-los ao vivo. No dia que eles se apresentaram, eu cheguei tarde.

Vou acompanhar o Litoral em Chamas!
Abraço.

03 outubro, 2006 21:53  
Anonymous Anônimo said...

hiro man!! o pipoqueiro do mundo sem canções para humanos!!

um cara q pensa!! e faz!

apesar de nao ter visto o show inteiro, pude perceber o tom de loucura dos caras da banda, no dia seguinte, qndo acordamos na republica hehe!

espero reencontrá-los em breve!!

e viva o som, a imagem, a vida!!

inté!

e parabéns pela matéria, Fábio.

04 outubro, 2006 17:52  
Anonymous Anônimo said...

hiro man!! o pipoqueiro do mundo sem canções para humanos!!

um cara q pensa!! e faz!

apesar de nao ter visto o show inteiro, pude perceber o tom de loucura dos caras da banda, no dia seguinte, qndo acordamos na republica hehe!

espero reencontrá-los em breve!!

e viva o som, a imagem, a vida!!

inté!

e parabéns pela matéria, Fábio.

04 outubro, 2006 17:52  
Anonymous Anônimo said...

Aaaah, que foda essa entrevista, do caralho(no bom sentido)
Adoro música xaropes!

05 outubro, 2006 20:09  
Anonymous Anônimo said...

hahaha massa a entrevista, reli agora.. esse menino hiro bigodinho de ouro, dente de sabre, falou coisa interessantes.. tbm vou acompanhar o blog Fabio.. quero ver o q há por vir. valeu por tudo!

grande abraço

06 outubro, 2006 03:31  
Anonymous Anônimo said...

ops. hahaha faltou um s no coisa.

06 outubro, 2006 03:33  
Anonymous Anônimo said...

Ótima entrevista !

08 outubro, 2006 20:33  
Anonymous Anônimo said...

queremos Santos pegando fogo!!!!

BURN THIS CITY!!! BURN THIS CITY!!!

E que o cheiro de fumaça se perpetue por todas as cabeças inumanas!!!

Vamos dançar em volta da cidade queimada como sombras loucas!!!!

ABS

09 outubro, 2006 17:50  
Anonymous Anônimo said...

Hiro, estou aqui na sua casa, requisitando um show na minha casa, que por coincidência é um andar abaixo da sua antiga casa.
Eu compro a breja.
Abraço.

13 outubro, 2006 00:09  

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