Uma banda estranha...

Sinceramente, nem sei porque estou fazendo essa introdução. A entrevista está ótima. Conheça Hiro, baterista da Canções para um Mundo sem Humanos, grupo de São Carlos, interior paulista.
Como o próprio Hiro definiu, segue o “freak show”:
Como surgiu a banda "Canções..."? Quais são suas referências (musicais, estéticas, pessoais...) na hora de criar as músicas?
Nós sempre trabalhamos juntos na faculdade (nós três fazemos Imagem e Som na UFScar), curtíamos os mesmos sons, as mesmas imagens, combinávamos de fazer uma banda mas nunca acontecia nada de concreto. O apoio do professor/amigo Alessandro Sales em produzir e um show marcado sem nem mesmo um ensaio (nosso show na festa LadoB em Limeira) foram determinantes para que o Canções surgisse. Temos como referencial estético fazer músicas que façam as pessoas optarem por viverem coisas que valham a pena e as façam dançar bizarramente quando escutam nossa sonoridade.
É impressionante o timbre de "rap" que a música "Canções..." possui. O mais chocante foi saber por meio do guitarrista Ciro que você fez aquela bateria por meio de um programa de computador. Como foi isso? É a primeira vez que você experimenta dessa maneira? Ou já fez isso em outros projetos?
Como trabalhei no estúdio Gaiola Zen (ex-estúdio de som de membros da banda The Dead Rocks), aprendi a mexer em alguns softwares de som. Além disso, fiz algumas trilhas sonoras para obras audiovisuais. Como sou baterista e disponho de pouco recurso financeiro, comecei a fazer músicas utilizando softwares para torná-las materiais. Num primeiro momento, eram rascunhos de músicas e percebendo que estavam ficando interessantes, estas músicas foram elevadas ao título de músicas prontas.
Esta música, que foi a primeira que fizemos e que se tornou parâmetro para as outras, tinha sido composta de maneira convencional, porém queríamos gravá-la. Levando em consideração nosso pouco recurso financeiro, decidimos seqüenciar a bateria, que é um instrumento difícil de gravar, e sintetizadores; e gravar "de verdade" vocais e instrumentos de corda. Gostamos da idéia de a música gravada ser de um jeito e ao vivo ser de outro e expandimos para as outras.
Eu assisti apenas alguns trechos da primeira apresentação de vocês em Limeira-SP, durante a Festa LadoB, e pude notar que, além de tocar bateria, você usou teclado em algumas músicas. Você é humano mesmo? Ou um stalker (aliás, que raios é isso?)?
Não é tão difícil assim... É só fazer acordes ao invés de dar baquetadas... Stalkers são seres que podem e sabem como viver na ZONA (região da Rússia misteriosa em que caiu um meteoro). Melhor do que ler esta definição simplória é assistir ao filme Stalker de Andrei Tarkovski.
Você ainda cursa Imagem e Som. Pretende trabalhar futuramente em algo ligado à Música (videoclips)? Cinema? Ou mercado publicitário (deve ser o que rende mais dinheiro...)?
A pergunta mais difícil... risos. Pretendo trabalhar com imagens e sons; e dormir e comer bem para não gastar tempo pensando em coisas que não sejam interessantes. Além disso, pretendo viajar e viver em lugares legais. Sei que não respondi a pergunta diretamente, mas é a resposta mais sincera que consigo dar.
Falando de Cinema, qual a sua opinião sobre o cinema brasileiro? Eu sei que é uma pergunta bem aberta e idiota, por isso, pode responder de uma maneira bem aberta e idiota... Bem, então vamos "tentar" melhorar: o cinema brasileiro produzido hoje em dia tem alguma qualidade artística? É instigante? Que trabalhos você destacaria?
O cinema brasileiro tem produzido muita porcaria, mas isto é bom. Só com uma grande quantidade é possível sair algo de qualidade. Hoje em dia quem tem produzido algo de interessante são os cineastas da antiga como Júlio Bressane e Eduardo Coutinho. De diretores novos, recomendo Lucrecia Martel e Pablo Trapero, que são nossos vizinhos argentinos e vivem numa situação parecida com a nossa.
Quais são os seus filmes e diretores preferidos?
Pergunta bem Nick Hornby mas tudo bem, apesar de eu não gostar de listas. Gosto de diretores que conseguem pensar por meios de imagens e sons. Bons exemplos são Andrei Tarkovski e Stanley Kubric. Filmes que merecem ser assistidos são “Bom Dia”, de Yasugiro Ozu, e “Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla.
E aquele curta-metragem sobre o menino que ensina um pássaro a cantar? Em que pé está? Será que algum dia eu (e quem mais estiver lendo isso aqui) poderá assistí-lo? Aliás, existe algum "cenário independente de filmes" no interior?
O curta-metragem está em fase de finalização do som. Até o final do ano, esperamos que esteja pronto. O endereço do site é http://www.ies.ufscar.br/emflor/. Em São Carlos, há um grande número de produções devido ao curso de Imagem e Som. Há também tentativas de aumentar essa produção fora da UFSCar por meio de projetos da prefeitura. Mas não há uma cena no sentido mais interessante do termo: produção estética interessante. Porém, se é pra ajudar a melhorar a situação, visto a camisa de que há sim um "cenário independente de filmes" no interior.

O Cinema influencia na música do "Canções..."? De que maneira?
Para a entrevista ficar menos entediante, responderei, a partir de agora de modo bizarro. No fundo, antes da matéria, o mundo é feito de imagens. Tudo é imagem. Deste modo, a música é a tradução sonora desta imagem, imagens sonoras; e o cinema são imagens sonoras e audiovisuais. Os motivos para se fazer são os mesmos, a grande diferença é que se gasta bem mais fazendo filmes. Bem mais. Muito mais. Assustadoramente mais. E a "banda" é formada por bem mais pessoas.
Antes de você ter o "Canções...", me lembro de uma conversa tua com o Marcos Piovesan sobre um projeto beeeemm estranho de usar samplers de música sertaneja podre em bases eletrônicas. Esse projeto bizarro virou realidade?
Na verdade, estávamos apenas divulgando o trabalho da dupla sertaneja Leninval Foice e Guevaro Martelo, que dizem fazer o "Sertan-rave-o´lution". Revolução para todas as classes sociais brasileiras!!! Perdemos um pouco de contato com eles, mas eles estão no orkut catequizando os indies.
Falando sobre o Pio e o Ciro, como é fazer música com os caras? Acredito que, para estar em um grupo como o "Canções...", o integrante não deve ser muito "normal"... (não leve a mal, é brincadeira, hahahahaha)
Para sair do senso comum, dos ideais medíocres da gigante classe média brasileira, é necessário ser louco. Há três tipos de louco: o realmente louco, que desencanou da consciência; o louco viável artisticamente, que vive no limite entre a loucura e a sanidade; e os piores: os que se auto-proclamam loucos, que nada mais são que propagadores de paranóias inúteis, e causam esta grande onda de niilismo que infesta a vida e a mídia. Estes últimos podem ter banda de rock, vestir roupas descoladas e usar as premissas punks como muleta para fazer péssimas músicas vazias e perpetuar a vontade da sociedade ocidental de dominar o mundo.
Quais são os próximos passos do "Canções..."? Gravar músicas? Shows?
Pretendemos produzir e fazer shows até a banda acabar. Talvez os membros se espalhem pelo mundo e novas Canções para um mundo sem Humanos surjam. De mais concreto, gravaremos novas músicas e faremos uma turnê por São Carlos. O primeiro show será em nossa república. Se você é de São Carlos, é só entrar em contato que tocaremos em sua casa com o maior prazer. Caso o leitor seja de outra cidade, aguarde. O mundo sem Humanos tem várias cidades e muitas canções.
9 Comments:
Bacana a entrevista, Fábio!
O Hiro é um dos grandes figuras que conheci nos últimos tempos.
Vida longa ao "Canções...", mesmo porque ainda quero vê-los ao vivo. No dia que eles se apresentaram, eu cheguei tarde.
Vou acompanhar o Litoral em Chamas!
Abraço.
hiro man!! o pipoqueiro do mundo sem canções para humanos!!
um cara q pensa!! e faz!
apesar de nao ter visto o show inteiro, pude perceber o tom de loucura dos caras da banda, no dia seguinte, qndo acordamos na republica hehe!
espero reencontrá-los em breve!!
e viva o som, a imagem, a vida!!
inté!
e parabéns pela matéria, Fábio.
hiro man!! o pipoqueiro do mundo sem canções para humanos!!
um cara q pensa!! e faz!
apesar de nao ter visto o show inteiro, pude perceber o tom de loucura dos caras da banda, no dia seguinte, qndo acordamos na republica hehe!
espero reencontrá-los em breve!!
e viva o som, a imagem, a vida!!
inté!
e parabéns pela matéria, Fábio.
Aaaah, que foda essa entrevista, do caralho(no bom sentido)
Adoro música xaropes!
hahaha massa a entrevista, reli agora.. esse menino hiro bigodinho de ouro, dente de sabre, falou coisa interessantes.. tbm vou acompanhar o blog Fabio.. quero ver o q há por vir. valeu por tudo!
grande abraço
ops. hahaha faltou um s no coisa.
Ótima entrevista !
queremos Santos pegando fogo!!!!
BURN THIS CITY!!! BURN THIS CITY!!!
E que o cheiro de fumaça se perpetue por todas as cabeças inumanas!!!
Vamos dançar em volta da cidade queimada como sombras loucas!!!!
ABS
Hiro, estou aqui na sua casa, requisitando um show na minha casa, que por coincidência é um andar abaixo da sua antiga casa.
Eu compro a breja.
Abraço.
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