quinta-feira, outubro 19, 2006

Para constar


No dia 13/10, fotografei o show do Dance of Days em Cubatão. O chapa André Azenha escreveu uma matéria e enviou para o site carioca Rock Press. E não é que saiu?

http://www.rockpress.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=992

Nem pense em me pedir dinheiro emprestado. Foi uma colaboração.

domingo, outubro 15, 2006

De como Kurt Cobain, do Nirvana, mudou a vida de Ilson, do Zefirina Bomba


Em forma de “repente”, vou contar uma história
de um menino pernambucano, chamado Ilson
Certa vez, ele ganhou um disco cor-de-rosa importado
A capa era preta, e o nome invocado!

Era “Bleach”, do Nirvana, e ninguém nunca tinha ouvido!
Dali por diante, Ilson havia se decidido!
Ele queria montar uma banda e tocar rock pesado,
e envenenou uma viola com uns captadores emprestados!

Mas em 1993, ele soube pelo rádio
que o tal do Nirvana viria pro Brasil!
Juntou dinheiro, vendeu uns pneus e arrumou uns trocados.
Com duas cuecas e biscoitos na mochila, viajou para o Rio todo empolgado!

Depois de 38 horas de viagem, ele chegou na cidade maravilhosa
Sem lugar pra dormir, tentou se ajeitar na rodoviária
Mas os seguranças avisaram: “Aqui não é lugar seguro!”
“É melhor você ir pra Lapa, menino! E tome cuidado com os vagabundos!”

Ao chegar no bairro boêmio, tentou disfarçar a fome com um refrigerante
Ao pedir a Coca-Cola para uma ambulante, seu sotaque lhe entregou:
“Eu vim da Paraíba, moça, pra assistir o Nirvana! E sou de João Pessoa”.
Sorridente, ela respondeu: “E eu sou de Teixeira-PB! Prazer, sua conterrânea!”

Após arrumar pouso certo, Ilson dormiu agarrado na mochila.
Ao acordar, tomou um café reforçado, e ouviu da ambulante:
“Não se preocupe com a fome, essa bebida te sustenta”...
Dito e feito... Ilson não sentiu fome até o final da contenda!

Ao chegar na Apoteose, Ilson não acreditou quando viu
Dave Grohl, Krist Novoselic e Kurt Cobain no palco!
A banda começou o show com “School”...
Sim, a mesma música daquele disco invocado!

XXX-XXX-XXX-XXX

O Zefirina Bomba, de João Pessoa-PB, se apresentou em Santos-SP no dia 14/10. Acompanhei André Azenha em uma longa entrevista com Ilson, o vocalista e principal letrista do grupo, que neste ano lançou pelo selo Tramavirtual o seu primeiro disco oficial, o “Noisecoregroovecocoenvenenado”.

Um agradecimento especial ao Ilson, super gente fina e que atendeu dois malas santistas antes e depois do show. Para conferir uma entrevista séria com o rapaz, procure o texto no Zen Cultural.
Prometo que nunca mais faço “repente”.

Punk?


A última semana foi bem louca, corrida e variada. Em dois dias, vi de perto duas bandas de rock com perfis bem diferentes, tanto no estilo musical como nos caminhos trilhados para se manterem na ativa, gravando discos e fazendo shows. E tudo isso ao lado do brother André Azenha, jornalista santista que mantém o blog Zen Cultural e colabora com outros veículos, como Rock Press e o site carioca Poppy Corn. Ah, o Azenha é bem mais organizado, disciplinado e responsável do que eu. Por isso, leia o blog dele.

Em plena sexta-feira 13 (!), eu, Azenha e mais duas amigas fomos para a aprazível cidade de Cubatão conferir o show do Dance of Days, banda de pós-punk (seria isso?) de São Paulo que, goste você ou não, é um fenômeno. Apesar da palavra (é, fenômeno...) soar ridícula, não aplico para puxar o saco dos caras. É impressionante ir em um show onde as letras das músicas não são exatamente um primor de pop music cantadas s-í-l-a-b-a por s-í-l-a-b-a por jovens com idade entre 14 e 18 anos. Pense comigo: você já imaginou uma música chamada “Um canto para Caronte (ou de como a Mantícora aprendeu a voar)” nas 10 mais de uma rádio FM?

O fato é que são poucas as bandas que conseguem uma identificação tão direta com o seu público. Pouco importa se você não gosta de rock, se eles são considerados “emo” (que raios é isso?)... Existe algo sincero e estranho que rola nos shows ao vivo. O Dance of Days já lançou 6 discos, está gravando seu sétimo neste momento pela Krako Records, possui uma loja na Galeria do Rock na capital paulista (onde vendem seus discos e centralizam agendamento de shows), além de serem, possivelmente, a banda underground que mais excursiona (entre outubro e dezembro de 2006, eles farão 14 shows, o que não é pouco para um artista independente).

Abaixo, fotos do show em (como diria um jornalista de surf) um pico secreto de Cubatão.


sábado, outubro 07, 2006

“Eu não sou marginal, sou um bom rapaz, pô!”

Nem eu acredito, mas tem gente que lê este blog. E agora, teremos até colaboradores! Sim, Fábio Shiraga, grande figura que conheci em Limeira-SP durante uma Festa LadoB, nos presenteia com uma entrevista feita em abril deste ano com o compositor Luís Capucho. Não conhece? Tudo bem... a mídia é imbecil mesmo.

Capucho já teve músicas interpretadas por pessoas como Cássia Eller, Pedro Luís (mentor do Monobloco e de Pedro Luís e a Parede) e Wado. Sua poesia é diferente, ouça. Ele já sofreu um coma e sobreviveu, e continua a fazer sua arte. Saiba mais abaixo:

Texto de Fábio Shiraga

Existe um grupo de compositores de Niterói que formam um novo movimento da música brasileira, pela identidade criada entre eles. São artistas que estão há mais de uma década na estrada e merecem destaque pela qualidade musical e tino poético. Apesar de suas canções serem gravadas por nomes conhecidos da MPB, como Daúde, Cássia Eller, Pedro Luís e Wado, continuam se apresentando em um cenário alternativo.

Luís Capucho, 44 anos, escritor e compositor é tido como mestre (mesmo que negue o título) desta geração. Gravou o disco chamado Lua Singela, lançado pelo selo independente Astronauta Discos e é autor do romance despudorado Cinema Orly, lançado pela Editora Interlúdio.

Capucho está preparando um novo disco, ainda sem previsão de lançamento, e se anima quando fala sobre seus novos projetos.

Seu primeiro disco só saiu em 2003, porém tua história como músico começa bem antes disso. Como foi sua carreira até o lançamento do Lua Singela?
Assim que comecei a fazer música, mais ou menos aos 23 anos, não via nada de especial nisso, porque era um troço tão espontâneo, que eu achava que qualquer pessoa que se metesse a aprender um instrumento, poderia inventá-las, e era o que eu fazia. Depois, eu comecei a ficar muito crítico com minhas letras, e fui pegando letras de amigos. Meu primeiro parceiro foi o Marcos Sacramento, que me apresentou a Suely Mesquita, que me apresentou a Mathilda Kóvak. Esses são os meus principais parceiros.
Meus outros amigos cantores começaram a curtir interpretar minhas músicas e fui vendo que fazia um troço legal. Mas eu também adoro cantar e apesar de morrer de timidez, me atrevia a isso, fazia shows esporádicos.
Esse negócio de se assumir, enquanto artista, é um negócio muito difícil. Sou muito inseguro e por isso me transformei em professor de português. De quando em vez, armava um show pra fazer. Comecei a ficar conhecido no circuito underground do Rio. E aí, entrei em coma e tive seqüelas vocais e motoras que atingiram em cheio a minha música: fiquei restrito a poucos acordes e minha voz ficou rouca e mais grave. Então, escrevi o Cinema Orly.
Depois, quis fazer um show, porque tinha ficado muito interessante. Eu achei a voz e os acordes e a minha batida esquisita no violão. Chamei uns músicos amigos que toparam fazer. Não era loucura minha. Estávamos todos loucos!
O Paulo Baiano (produtor do disco Lua Singela) viu o show com uma cara esquisitíssima e depois de um tempo me chamou pra fazer um disco. E o selo Astronauta Discos lançou.

Um disco pronto, suas canções já gravadas por nomes do mainstream musical, boas críticas sobre o disco e shows escritas por jornalistas como Tárik de Souza (crítico de música do Jornal do Brasil), compositores contemporâneos o chamam de mestre de sua geração... Já pintou alguma negociação com uma grande gravadora?
Esse negócio de ter saído no jornal que sou um mestre, isso é maluquice! Mestre nada! Isso é maluquice do Antônio Carlos Miguel, do Globo! Bem que eu gostaria de ser um tipo fodão, assim... risos
Não, nunca me agenciei a uma grande empresa. Meus produtos artísticos não entram em cheio no mercado por causa disso. O selo do Lua Singela não tem grana pra investir, assim como a editora de meu livro Cinema Orly. E eu, perdido aqui no meu cotidiano, de vez em quando perco a noção, e brigo pra caramba com eles. Mas eu sei que é complicado. É que eu saí de um coma, quer dizer, eu saí do nada para a minha vida de artista. Eu venho no maior pique e quero uma força que eles não têm. Não sei se me faço entender. Nem eu mesmo entendo muito bem como as coisas se dão. O fato é que estou animado, que eu tenho os produtos de arte e que são legais.
Mesmo que eu não tenha tido nunca dinheiro pra investir, eles, aos poucos, com a força própria que possuem, seguem o bom caminho. É o caso de "Maluca", "Máquina de Escrever", do "Cinema Orly" e tudo.
Nota: "Maluca" foi gravada por Cássia Eller, "Máquina de Escrever" é sua canção de grande sucesso, gravada por Mathilda Kóvak e Pedro Luís. "Cinema Orly", o livro, ficou em evidência na mídia na época do lançamento e foi premiado ano passado pelo grupo gay Arco-Íris.

O crítico Tárik de Souza escreve que você faz o avesso da "mpb-boa-moça", você é tido como um maldito e o cabeça desta geração que já foi chamada de "Retropicalismo". Qual a sua relação com este cenário 'marginal'?
Não sou o cabeça do Retropicalismo. Quem inventou o Retropicalismo foi a Mathilda Kóvak e me colocou nele como um Jean Genet da MPB. Eu não sou marginal, sou um bom rapaz, pô! Ninguém deve saber o que seja o Retropicalismo, nem mesmo a Mathilda que o inventou. Não sou um intelectual.
O Tropicalismo foi uma música feita por intelectuais de classe média em contraponto à Jovem-Guarda, que era uma música mais fácil de ser assimilada. Por muito tempo estive mais para Roberto Carlos que para Caetano Veloso. Por acaso estudei Letras, e fiz um livro, e sou um artista, finalmente, eu assumo isso. Mas queria que você perguntasse à Mathilda, que troço é esse de Retropicalismo... risos
Nota (2): Mathilda Kóvak em um release chama Luís Capucho de Jean Genet da canção popular. Jean Genet é dramaturgo francês (1910-1986), amigo de grandes mentes de seu tempo como Sartre, Derrida e Foucault. Também teve grande importância ao descrever de maneira muito objetiva o submundo gay.

Suas parcerias são com compositoras que também estão neste cenário alternativo, como Mathilda Kóvak, Suely Mesquita e Suzie Thompson. Você poderia me contar um pouco sobre este grupo que de certa maneira já criou um novo movimento na música popular brasileira?
A gente tem mesmo uma identidade, a gente se reconhece nas músicas um dos outros e, por isso, nos tornamos parceiros. Suely e Mathilda são mais articuladas, e articuladoras, e essa idéia de grupo, que extrapola nossa cidade (Niterói), se deve às suas maquinações e ao fato de sermos amigos. É um grupo feminino, do qual herdei o meu "Blog rosa". Agora, inventei um "Blog azul", e estamos num outro momento, cada um fazendo suas coisas no seu canto, embora sem perder um ao outro, porque, juntos, criamos um vínculo bem legal nesses muitos anos em que nos conhecemos.
Eu adoro quando inventamos de estar juntos num projeto qualquer musical. Gosto de turma! Ficamos mais fortes e protegidos, além de ficar mais bonito. Vamos ver qual vai ser a próxima!

Você gostou das gravações dos outros intérpretes? Tem alguma predileta? Qual a importância de ter suas canções na voz de outras pessoas?
Eu adoro que minha música seja cantada por um intérprete ou outra pessoa. Isso é muito importante, porque como eu sou muito inseguro quanto ao que faço, fico na dúvida se está bom, se um cara canta, sei que ficou legal. Às vezes, uma música só está legal pra mim, se alguém gostou. O gosto do outro é o meu parâmetro. É foda! Eu adoro a "Maluca" com a Cássia Eller! E "Máquina de Escrever" com a Mathilda!

E quais os projetos futuros? Composições novas, alguma gravação pintando por aí?
Estou muito animado com a gravação do novo CD. Não tenho selo, nada. Vou fazendo aos pouquinhos e ajeitando. O Chico César ofereceu seu selo para lançar, mas ainda não conversamos direito sobre isso. Quero regravar "Romena", parceria com a Suely, que a Daúde gravou. E quero regravar “Auréola”, parceria com Mathilda e que ela e eu gravamos no "Mahatmathilda, A Evolução de Minha Espécie". Todas as outras músicas serão inéditas.
Além disso, "Máquina de Escrever" entrou na trilha de um filme a ser lançado ainda esse ano pelo Grupo "Nós no Morro", um filme que irá se chamar "Show de Bola".
Estarei cantando "Fonemas", minha parceria com Marcos Sacramento, num documentário do "Cep 20000", sobre eles mesmos. E sou um dos documentados por Bruno Barreto no documentário sobre a FLIP, Feira Literária Internacional de Paraty, como escritor do Cinema Orly. Fui selecionado para me apresentar na Sala Funarte, na Pauta Brasileira de Música, onde se apresentarão também os meus parceiros Marcos Sacramento e Suely Mesquita.
Nota (3): Chico César, cantor e compositor tem o selo Chita Discos. "Nós no Morro" é o projeto de um grupo de amigos que trabalha com a Comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro, formando grupos de teatro desde 1986 e em 1995 iniciaram trabalhos em cinema. "Cep 20000" é um Centro de Experimentação Poética.

terça-feira, outubro 03, 2006

Uma banda estranha...


Sinceramente, nem sei porque estou fazendo essa introdução. A entrevista está ótima. Conheça Hiro, baterista da Canções para um Mundo sem Humanos, grupo de São Carlos, interior paulista.

Como o próprio Hiro definiu, segue o “freak show”:

Como surgiu a banda "Canções..."? Quais são suas referências (musicais, estéticas, pessoais...) na hora de criar as músicas?
Nós sempre trabalhamos juntos na faculdade (nós três fazemos Imagem e Som na UFScar), curtíamos os mesmos sons, as mesmas imagens, combinávamos de fazer uma banda mas nunca acontecia nada de concreto. O apoio do professor/amigo Alessandro Sales em produzir e um show marcado sem nem mesmo um ensaio (nosso show na festa LadoB em Limeira) foram determinantes para que o Canções surgisse. Temos como referencial estético fazer músicas que façam as pessoas optarem por viverem coisas que valham a pena e as façam dançar bizarramente quando escutam nossa sonoridade.

É impressionante o timbre de "rap" que a música "Canções..." possui. O mais chocante foi saber por meio do guitarrista Ciro que você fez aquela bateria por meio de um programa de computador. Como foi isso? É a primeira vez que você experimenta dessa maneira? Ou já fez isso em outros projetos?
Como trabalhei no estúdio Gaiola Zen (ex-estúdio de som de membros da banda The Dead Rocks), aprendi a mexer em alguns softwares de som. Além disso, fiz algumas trilhas sonoras para obras audiovisuais. Como sou baterista e disponho de pouco recurso financeiro, comecei a fazer músicas utilizando softwares para torná-las materiais. Num primeiro momento, eram rascunhos de músicas e percebendo que estavam ficando interessantes, estas músicas foram elevadas ao título de músicas prontas.
Esta música, que foi a primeira que fizemos e que se tornou parâmetro para as outras, tinha sido composta de maneira convencional, porém queríamos gravá-la. Levando em consideração nosso pouco recurso financeiro, decidimos seqüenciar a bateria, que é um instrumento difícil de gravar, e sintetizadores; e gravar "de verdade" vocais e instrumentos de corda. Gostamos da idéia de a música gravada ser de um jeito e ao vivo ser de outro e expandimos para as outras.

Eu assisti apenas alguns trechos da primeira apresentação de vocês em Limeira-SP, durante a Festa LadoB, e pude notar que, além de tocar bateria, você usou teclado em algumas músicas. Você é humano mesmo? Ou um stalker (aliás, que raios é isso?)?
Não é tão difícil assim... É só fazer acordes ao invés de dar baquetadas... Stalkers são seres que podem e sabem como viver na ZONA (região da Rússia misteriosa em que caiu um meteoro). Melhor do que ler esta definição simplória é assistir ao filme Stalker de Andrei Tarkovski.

Você ainda cursa Imagem e Som. Pretende trabalhar futuramente em algo ligado à Música (videoclips)? Cinema? Ou mercado publicitário (deve ser o que rende mais dinheiro...)?
A pergunta mais difícil... risos. Pretendo trabalhar com imagens e sons; e dormir e comer bem para não gastar tempo pensando em coisas que não sejam interessantes. Além disso, pretendo viajar e viver em lugares legais. Sei que não respondi a pergunta diretamente, mas é a resposta mais sincera que consigo dar.

Falando de Cinema, qual a sua opinião sobre o cinema brasileiro? Eu sei que é uma pergunta bem aberta e idiota, por isso, pode responder de uma maneira bem aberta e idiota... Bem, então vamos "tentar" melhorar: o cinema brasileiro produzido hoje em dia tem alguma qualidade artística? É instigante? Que trabalhos você destacaria?
O cinema brasileiro tem produzido muita porcaria, mas isto é bom. Só com uma grande quantidade é possível sair algo de qualidade. Hoje em dia quem tem produzido algo de interessante são os cineastas da antiga como Júlio Bressane e Eduardo Coutinho. De diretores novos, recomendo Lucrecia Martel e Pablo Trapero, que são nossos vizinhos argentinos e vivem numa situação parecida com a nossa.

Quais são os seus filmes e diretores preferidos?
Pergunta bem Nick Hornby mas tudo bem, apesar de eu não gostar de listas. Gosto de diretores que conseguem pensar por meios de imagens e sons. Bons exemplos são Andrei Tarkovski e Stanley Kubric. Filmes que merecem ser assistidos são “Bom Dia”, de Yasugiro Ozu, e “Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla.

E aquele curta-metragem sobre o menino que ensina um pássaro a cantar? Em que pé está? Será que algum dia eu (e quem mais estiver lendo isso aqui) poderá assistí-lo? Aliás, existe algum "cenário independente de filmes" no interior?
O curta-metragem está em fase de finalização do som. Até o final do ano, esperamos que esteja pronto. O endereço do site é http://www.ies.ufscar.br/emflor/. Em São Carlos, há um grande número de produções devido ao curso de Imagem e Som. Há também tentativas de aumentar essa produção fora da UFSCar por meio de projetos da prefeitura. Mas não há uma cena no sentido mais interessante do termo: produção estética interessante. Porém, se é pra ajudar a melhorar a situação, visto a camisa de que há sim um "cenário independente de filmes" no interior.

O Cinema influencia na música do "Canções..."? De que maneira?
Para a entrevista ficar menos entediante, responderei, a partir de agora de modo bizarro. No fundo, antes da matéria, o mundo é feito de imagens. Tudo é imagem. Deste modo, a música é a tradução sonora desta imagem, imagens sonoras; e o cinema são imagens sonoras e audiovisuais. Os motivos para se fazer são os mesmos, a grande diferença é que se gasta bem mais fazendo filmes. Bem mais. Muito mais. Assustadoramente mais. E a "banda" é formada por bem mais pessoas.

Antes de você ter o "Canções...", me lembro de uma conversa tua com o Marcos Piovesan sobre um projeto beeeemm estranho de usar samplers de música sertaneja podre em bases eletrônicas. Esse projeto bizarro virou realidade?
Na verdade, estávamos apenas divulgando o trabalho da dupla sertaneja Leninval Foice e Guevaro Martelo, que dizem fazer o "Sertan-rave-o´lution". Revolução para todas as classes sociais brasileiras!!! Perdemos um pouco de contato com eles, mas eles estão no orkut catequizando os indies.

Falando sobre o Pio e o Ciro, como é fazer música com os caras? Acredito que, para estar em um grupo como o "Canções...", o integrante não deve ser muito "normal"... (não leve a mal, é brincadeira, hahahahaha)
Para sair do senso comum, dos ideais medíocres da gigante classe média brasileira, é necessário ser louco. Há três tipos de louco: o realmente louco, que desencanou da consciência; o louco viável artisticamente, que vive no limite entre a loucura e a sanidade; e os piores: os que se auto-proclamam loucos, que nada mais são que propagadores de paranóias inúteis, e causam esta grande onda de niilismo que infesta a vida e a mídia. Estes últimos podem ter banda de rock, vestir roupas descoladas e usar as premissas punks como muleta para fazer péssimas músicas vazias e perpetuar a vontade da sociedade ocidental de dominar o mundo.

Quais são os próximos passos do "Canções..."? Gravar músicas? Shows?
Pretendemos produzir e fazer shows até a banda acabar. Talvez os membros se espalhem pelo mundo e novas Canções para um mundo sem Humanos surjam. De mais concreto, gravaremos novas músicas e faremos uma turnê por São Carlos. O primeiro show será em nossa república. Se você é de São Carlos, é só entrar em contato que tocaremos em sua casa com o maior prazer. Caso o leitor seja de outra cidade, aguarde. O mundo sem Humanos tem várias cidades e muitas canções.